IV - Convicção e territorialidade

Era um homem, aparentando seus cinqüenta anos, magro e com olheiras profundas que mostravam mais a insanidade que o cansaço. Vivia dentro da casa, não saia de seu perímetro. Não poderia existir fora dela. Era seu espaço.

Um dia um segundo homem aparece na casa. A aparência de uma pessoa mais nova, mas com as mesmas manias: alegava não poder existir fora do espaço compreendido pela construção.

O mais velho certamente não cederia. O mais novo estava convicto que era seu lugar. Para ambos, apenas um poderia existir na mesma dimensão ao mesmo tempo dentro da casa. Correram e iniciaram uma briga. Saíram na mais louca disparada pela casa. Ora um perseguia, ora esquivava – enquanto gritavam que não poderiam coexistir no mesmo espaço.

Após algum tempo, uma pessoa ouve a algazarra na casa e a rompe adentro para descobrir o que acontecia e, ao ver tamanha discussão bizarra, sai na mesma velocidade com a que entrou! Deixara a porta aberta enquanto os dois continuavam a defender sua existência dentro do único lugar que poderiam existir: o perímetro da casa. Durante uma das perseguições o homem mais velho tropeça e capota para fora da construção. A briga cessou. O homem mais novo, com ar de conquistador, era o feliz dono do terreno da casinha, o qual nunca mais sairia. O outro, mais velho, ao se ver fora casa percebeu que acabara de violar aquilo que acreditava: inacreditavelmente existia fora da casa. Respirava normalmente, pensava, se sentia bem e não sumira. Saiu pela rua gritando decretando que o mundo era dele: “É meu! Ele é meu! É todo meu!”

9 comentários:

Anônimo disse...

E será que ele conseguiu coexistir pacificamente com as outras pessoas do mundo?
Se não, pelo menos do lado de fora há mais lugares para correr, perseguir alguém e esquivar-se...

Anônimo disse...

Essa empolgação vai acabar rapidinho... Hauheauheau!

Augusto Souza disse...

há mais lugares la fora para serem conquistados

Unknown disse...

A antiga máxima que reina nos corações de todos os seres humanos: o medo do desconhecido, que nos faz crer e justificar a desnecessidade de enfrentá-lo, mas que quando acabamos por fazê-lo nos expõe a um admirável mundo novo, repleto de novidades excitantes, as quais nos impelem a abraçá-lo da forma que pudermos, em virtude de um novo medo que passa a nos assombrar... o medo de não provar o suficiente antes de perdê-lo...

Unknown disse...

Combina exatamente com o que eu gosto de dizer, de maneire bem existencialista, podemos se tão grandes quanto desejarmos, e ainda maiores... e não importa e que estágio de evolução estamos, sempre há algo maior epolgante e desconcertante ao nosso redor, pronto para ser descoberto.

Anônimo disse...

Muito bom. Facil e interessante de ler. O curta vai ficar muito bacana. Gambatte! ^__^v

Anônimo disse...

Muito real apesar das alegorias.
Fugiu de qualquer filosofia barata para explicar um h�bito corriqueiro entre algumas pessoas - eu, inclusive - de criar um mundo e desaprender a viver fora dele at� que a vida nos jogue novamente na 'rua' e nos ensine na marra.
Adorei...pena que n�o consegui comentar no seu outro blog.
Parab�ns!

Climão Tahiti disse...

Provavelmente quem saiu não teve uma boa experiência. =/

- Cah disse...

interessaante,
eu tinha um blog com textos nesse estilo.

brigado por passar lá
;]