IV - Convicção e territorialidade

Era um homem, aparentando seus cinqüenta anos, magro e com olheiras profundas que mostravam mais a insanidade que o cansaço. Vivia dentro da casa, não saia de seu perímetro. Não poderia existir fora dela. Era seu espaço.

Um dia um segundo homem aparece na casa. A aparência de uma pessoa mais nova, mas com as mesmas manias: alegava não poder existir fora do espaço compreendido pela construção.

O mais velho certamente não cederia. O mais novo estava convicto que era seu lugar. Para ambos, apenas um poderia existir na mesma dimensão ao mesmo tempo dentro da casa. Correram e iniciaram uma briga. Saíram na mais louca disparada pela casa. Ora um perseguia, ora esquivava – enquanto gritavam que não poderiam coexistir no mesmo espaço.

Após algum tempo, uma pessoa ouve a algazarra na casa e a rompe adentro para descobrir o que acontecia e, ao ver tamanha discussão bizarra, sai na mesma velocidade com a que entrou! Deixara a porta aberta enquanto os dois continuavam a defender sua existência dentro do único lugar que poderiam existir: o perímetro da casa. Durante uma das perseguições o homem mais velho tropeça e capota para fora da construção. A briga cessou. O homem mais novo, com ar de conquistador, era o feliz dono do terreno da casinha, o qual nunca mais sairia. O outro, mais velho, ao se ver fora casa percebeu que acabara de violar aquilo que acreditava: inacreditavelmente existia fora da casa. Respirava normalmente, pensava, se sentia bem e não sumira. Saiu pela rua gritando decretando que o mundo era dele: “É meu! Ele é meu! É todo meu!”